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Foto do escritorMariana Vilela

Clube de Escrita para Mulheres potencializa pensamentos diversos

Atualizado: 22 de set. de 2020

Texto publicado no Jornalismo Colaborativo:


E já que a temática da literatura está em pauta com a realização da Flip, a 17ª Festa Literária de Paraty, que aconteceu na última semana, aqui estou eu para falar do tema por algumas nuances. E no dia de hoje, quero falar pelo viés do Clube de Escrita para Mulheres do qual eu estou fazendo parte.


Quando eu comecei a frequentar o clube, há um ano e meio, estava finalizando um relacionamento e sentindo uma grande necessidade de dar vazão em forma de escrita dos meus desafetos, do desencontro e da dor que estava experimentando. Senti nessas mulheres a força e o acolhimento necessário para transformar o luto em potência, em uma redescoberta de mim mesma através das letras.


Fundado no ano de 2015, pela escritora Jarid Arraes, que inclusive foi autora convidada da Festa e configurou entre as escritoras dos dez livros mais vendidos desta edição, o Clube de Escrita para Mulheres começou com a realização de encontros com mulheres que escreviam, até que transformou-se em um coletivo no ano de 2017.


O principal objetivo é ser um espaço seguro para que mulheres interessadas em literatura e escrita possam produzir e se reconhecerem como escritoras. Qualquer mulher pode participar. Basta gostar de escrever em qualquer gênero literário e aparecer nos encontros com algum material de escrita.


Inicialmente, os encontros aconteciam em locais menores, na cidade de São Paulo, e, com o passar do tempo, foi ganhando força e representatividade cultural. Hoje, é realizado na Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade, onde se reúnem, atualmente, de 30 a 40 mulheres para exercitarem a escrita, trocarem experiências de leitura e acolherem-se.


Muitas das participantes já publicaram seus livros, individuais ou antologias, ou estão prestes a publicar, seja por editoras ou de forma independente.


“Citando alguns nomes, temos Pilar Bu, Gabriela Soutello, Dani Costa Russo, Ana Clara Squilanti (ex-coordenadora), Fernanda Rodrigues, Isabel Dias, Lourdes Chaves Ferreira e Orleide Ferreira. E com certeza existem mais, mesmo porque há frequentadoras recentes já publicadas”, afirma Anna Clara de Vitto, que coordena atualmente o Clube juntamente com a escritora Jarid Arraes.


A própria Anna Clara é uma das escritoras que publicaram com o incentivo do Clube. Recentemente, foi impresso seu livro de poesias Água Indócil. “O Clube foi fundamental para que eu tirasse os poemas da gaveta e acreditasse que eles mereciam ser lidos e que poderiam tocar outras mulheres, outras pessoas”, conta.


Os encontros também têm o papel de estimular a inscrição de projetos em editais públicos de fomento à cultura, de forma que algumas das frequentadoras já foram contempladas em editais e puderam realizar o sonho de publicar.

Pergunto à Anna Clara se faz sentido a existência de um Clube de escrita apenas para mulheres. A resposta está na ponta da língua. “Infelizmente, ainda vivemos em um mundo patriarcal, que diminui e silencia mulheres, oprimindo-as de muitas maneiras. Ainda estamos longe de alcançar a igualdade plena e efetiva em publicações, prêmios, eventos e visibilidade literária”, afirma Anna.


Ela exemplifica relembrando um episódio ocorrido no Rio de Janeiro, com a realização de uma oficina de poesia promovida por um grande instituto cultural com apenas 18 poetas brancos e, questionado a respeito, optou por dar respostas descompromissadas, apesar de o evento ter sido cancelado.


Este cenário piora quando se pensa em escritoras negras, indígenas, LBTs, com deficiência e periféricas que vivem em outras regiões brasileiras que não o Sul e o Sudeste. “Falando por mim, que sou uma poeta branca, em todos os espaços mistos que frequentei, senti que os escritores homens, sobretudo os brancos, ainda se sentem muito à vontade em ocupar todo o espaço, pautar todos os debates e posicionarem-se como os representantes da literatura, os únicos dignos de serem ouvidos e lidos”, lamenta.


Nesse contexto, e considerando que literatura é política, iniciativas como o Clube de Escrita para Mulheres são fundamentais para que escritoras passem a disputar as narrativas que, até então, eram tidas como as universais. Afinal, como acrescenta Ana Clara de Vitto, “espaços mistos ainda não propiciam a segurança e a liberdade de auto organização para essa tarefa”.


Para participar do Clube de Escrita para Mulheres, não precisa ser autora publicada nem ter projeto de livro, basta aparecer nos encontros com algum material de escrita.

As atividades são completamente gratuitas e acontecem às quartas-feiras, quinzenalmente, a partir das 19h30, na Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo.


Poema Desforra, trabalhado no Clube de Escrita, de Água indócil, por Anna Clara de Vitto desforra atirei aquele olhar  como alguém atira pedras num trem você não vai  passar essa vadia que revida vai atravessar  com os volteios  do vestido que eu não quis  deixar de usar você não vai dormir  só de pensar fosse minha essa rua  nela só passava fúria


Mais informações na página oficial do clube: fb.com/clubedaescritaparamulheres



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